terça-feira, 26 de julho de 2016

A pequenina fábula urbana da Beleza que despedaçou o Tempo


Você não gosta de esperar, e afinal quem gosta? Você definitivamente não gosta de esperar. Mas o tempo passa, você espera, ela está vindo, em algum lugar ela está se arrumando e vindo. Você olha as árvores, olha para a estátua do Redentor, é a cidade mais bonita do mundo, esteja feliz! O tempo passa. Seu ímpeto arrefece, você não se estressa, apenas inicia a queda na ladeira do desânimo. Rola. E nada. Que saco, hein? Você circula, vai aqui e ali. Não sabe o que fazer. Uma hora e meia. Seu recorde foi batido, em plena Cidade Olímpica. Vai para fora do jardim, cabisbaixo, contrafeito. Então olha para a calçada. Um vestido verde rompe entre a multidão. É ELA. Num repente a cidade inteira parece exultar de esplendor e ao mesmo tempo desfazer-se, transmutar-se em tela em branco, em vácuo e palco, e todo o seu ser, cada célula, e seu espírito dizem, escravos de uma certeza total, inescapável: "Veja, é ela, a mulher mais bonita de todo o mundo". O desânimo, despedaçado, já não é sequer uma lembrança. Então ela sorri, e seu sorriso é um Universo armado que dispara, e você surta, atingido, e ouve um som frenético dentro da sua cabeça, "plein, plein, plein..." São todas as fichas do mundo que caem no seu cérebro, ao mesmo tempo, e você entende por que Einstein foi o gênio que foi, pois ele deve ter visto ou sido atravessado por uma maravilha assim, que só ocorre uma vez a cada século, e nesse instante ele concebeu sua maior teoria, pois entendeu que o tempo é relativo, o tempo não é nada. 
26/07/2016 

 Sammis Reachers

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